terça-feira, 29 de julho de 2008

Nos anais da traição

Condor é o protagonista sexual do subúrbio fluminense onde mora. Conhecedor e provocador dos anéis femininos, não deixa por menos o punhado de causos que diz respeito a sua viril artimanha de bom comedor. Começou cedo a espalhar suspiros entre as donzelas do bairro que logo o batizaram de “Semdor”, o desbravador que faz sem dor as mulheres suspirarem. Mas tinha embrenhado no emaranhado de sua boa fama certa honestidade e pudor. Nunca se desfrutava das casadas e, menos ainda, das compromissadas com algum amigo seu, o que deixava os pobres mais aliviados.

Mas como anjo caído, nunca é santo convicto, começou a embaralhar a idéia de Jorge a possibilidade de estar sendo corneado pelo companheiro Condor. Relutou no inicio, disse a si mesmo da boa fé que depositava no amigo e achou improvável que o relembrado pivô do seu time campeão nos jogos colegiais fosse capaz de aprontar uma crocodilagem dessa com o zagueiro, ele. Porém, cego como era pelo amor da mulher, descartou os bons princípios do amigo e supôs que o tratamento desigual que vinha Condor tendo para com Jorge fosse o suficiente para elucidar a sua dúvida sobre o amante da esposa. E acreditava com fé que o único capaz de atrapalhar as idéias da mulher nas redondezas era o aclamado Condor.

Como o destino lhes era desastrado, encontraram-se num mesmo bar os dois jogadores. Jorge questionou a ausência do amigo para os almoços no domingo e a maneira rude com que tratou Jurema, a esposa, num encontro fortuito. Condor se justificou, alegou constrangimento e disse que as coisas não andavam bem nos últimos tempos. Em nada disso o chifrudo acreditou.

Procurou então tirar da mulher os fatos da traição. Ela jurou fidelidade e reafirmou, segurando a medalhinha de Nossa Senhora Aparecida, que ele era o único homem que conhecia as suas belas entranhas.

Não acalentado, o zagueiro pôs-se a seguir o pivô esperando para dar o bote e finalmente revelar as estratégias desse jogo de traição. Quando lá pelas três da tarde de uma quinta-feira Condor entrou na porta do motel chinfrim que tinha no bairro, Jorge não repensou e partiu atrás do traidor. E para fomentar ainda mais a situação era justamente o mesmo dia e horário em que Jurema costumava sair para ir ao cabeleireiro.

Assim que abriu a rangente porta do quarto, não conseguiu ver o rosto do amigo, apenas ouviu seu abafado grunhido. O enfatizado comedor agora era comido e, pelos gritos, era comido ‘com dor’. Ao sair deu de frente com a mulher, agora com os cabelos enfeitados. Lamentava a pobre por não ter decepcionado o marido contando que sabia que Condor fazia jus ao seu nome, mas não mais o fazia ao velho posto de bom desbravador.

Nenhum comentário: