quinta-feira, 8 de julho de 2010

CERVEJARIAS ARTESANAIS RESSURGEM NA CIDADE


por Ana Luíza Rezende & Carolina Azevedo
O que te faz ir a um barzinho? Um bom tira gosto, talvez, um ambiente confortável, boas companhias. O curioso é que agora, apesar de ser minoria, um número crescente de pessoas se desloca do centro para ambientes mais distantes em busca de uma cerveja diferenciada, sofisticada e caseira.
Apesar de ainda estarem se popularizando, as cervejas artesanais caíram no gosto de muitos e é vista como uma bebida irreverente. Existem muitos apreciadores que garantem não trocar as “loirinhas sofisticadas” por nenhuma pilsen.
Hoje está muito mais acessível não só o consumo das cervejas artesanais, como o aprendizado para produzi-las. Muitos sites disponibilizam um mini curso on line sobre sua produção, bem como cervejeiros conceituados promovem cursos presenciais para ter uma ideia sobre essa fabricação. Daí vai da habilidade, bom paladar e disponibilidade de cada um na hora de produzir a sua própria cerveja, de forma a diferenciar de todas as demais.
A HISTÓRIA
A cerveja é uma das bebidas mais antigas, com sua história datando de 6 mil anos AC, sendo registrada em escritas do Iraque ancestral.Na Europa Medieval,a produção e o consumo da cerveja eram altas,e popular entra as classes baixas da sociedade, principalmente pela dificuldade que havia de se encontrar água limpa e pura para beber,eles bebiam então cervejas.
O que essas cervejas têm de diferente, é o seu modo de produção. Enquanto acerveja Pilsen,também conhecida como Larger, que é a cerveja padrão de consumo do brasileiro, possui baixa fermentação – variando sua temperatura de 10ºC a 12ºC,a cerveja artesanal, chamada de Ale, é feita sob alta fermentação – que varia entre as temperaturas de 18ºC e 21ºC.
É a fermentação que caracteriza o sabor da cerveja, deixando-a mais refrescante e fraca, ou com um sabor mais forte e marcante.
A cerveja artesanal é composta basicamente por água, molti (cevada), lúpulo e levedura (o açúcar que originará o álcool). Esse lúpulo costuma vir da Tchecoslováquia ou da Bélgica, é essa importação que encarece ainda mais o preço da cerveja.
Seu teor alcoólico depende da densidade do extrato de açúcar. A média das cervejas da casa é 5%. O fermento que controla. Eles oferecem uma cerveja com 12% de teor alcoólico, seu sabor é muito próximo do whisky.Isso se deve ao molti defumado escocês presente na sua produção.Essa cerveja é exclusividade da casa.A produção dessas cervejas dispensam o uso de conservantes.E Antero ainda garante que essas cervejas não provoca ressacas.
CERVEJARIAS EM JUIZ DE FORA
As cervejarias artesanais fazem parte da história de nossa cidade desde o século XIX, quando havia nove fábricas locais que produziam essas cervejas. Porém não sobreviveram à concorrência dos grandes produtores.
Nos últimos cinco anos vem surgindo novas cervejarias em Juiz de Fora, trazendo de volta a antiga tradição vinda com colonos alemães dos séculos passados.
A cidade conta até com profissionais do ramo que ensinam todo o processo de produção para os interessados. Norberto Herrero é um desses profissionais que dentre seus vários aprendizes, ensinou Antero Fernandes, dono da Pizzaria Artezannale, a produzir sua própria cerveja. E o resultado deu certo.
Antero Fernandes, além dos ensinamentos de Norberto, foi buscar outros cursos em Portugal para aprimorar suas técnicas. Após137 cervejas experimentais, ele chegou à receita perfeita, exclusiva da casa. Antero afirma que seu o diferencial de sua receita foi ter conseguido adaptar o sabor de sua cerveja ao clima brasileiro, dando mais leveza.“Nas suas origens européias, ela é mais forte, devido ao clima frio dos países. O brasileiro não agradaria muito desse sabor”.
Na casa são servidos três tipos de cervejas: Shara: a cerveja branca, Salomé:a cerveja vermelha e Sabá: a cerveja preta.Antero explica a razão dos nomes femininos à “escolhi nomes de mulheres porque desde antigamente a cerveja é ligada à guerra e ao amor ”
PÚBLICO
Segundo estatísticas, apenas 6% dos brasileiros têm o costume de consumir as cervejas artesanais, mas apesar dos preços mais caros, esse número está crescendo.
Esse seleto público diz apreciar uma cerveja mais refinada, concentrada e saborosa. Marcos Antonio Soares, servidor público e apreciador dessa bebida diz: “ A maioria das pessoas aqui em Juiz de Fora saem para conversar e a cerveja é um acompanhamento. No meu caso, eu saio para apreciar as cervejas artesanais, e a conversa é o acompanhamento."Uma característica da maioria dos consumidores da cerveja caseira, que valorizam muito sua apreciação.
Muito dos produtores, como o Antero da Artezanalle, presam pela qualidade e não quantidade. Portanto, sempre produzirão em uma quantidade menor e servirão para aquele público menor, mas fiel. Assim como outros produtores que não têm a ambição de fabricar a cerveja artesanal em larga escala, limitando a expansão de consumidores.
Em contrapartida, outros produtores como do chopp artesanal Antuérpia têm a intenção de alargar essa escala, e levar a todos os públicos o gosto da bebida caseira.
Existem até comunidades em sites de relacionamentos que reúnem apreciadores, fabricantes amadores e especialistas em cerveja artesanal. Gustavo Teixeira, um dos participantes da comunidade virtual, Cerveja Artesanal, existente desde 2004, diz que quando entrou na comunidade era exclusivamente porque apreciava a cerveja artesanal, mas que lendo os tópicos percebeu como ele poderia investir também na produção da bebida. Hoje é um produtor de cerveja caseira em um restaurante em Ribeirão Preto.
As cervejas industriais crescem a um fator de 3% a 4% ao ano. Já as artesanais crescem de 14 % a 15%, o que indica um mercado e um público consumidor em evidência.
Parte desse público como é o caso de Mariana Guimarães, estudante de direito, não gostavam da cerveja industrial, mas agora já incluíram a cerveja artesanal no seu cardápio, principalmente quando é para acompanhar sobremesas e pratos especiais. Quando vai ao Boi na Curva, no bairro Santa Terezinha, não dispensa a cerveja desenvolvida por Cristian Rocha para acompanhar os caldinhos.
Conheça mais as cervejarias de JF:
Artezanalle Pizza Rústica: Rua Aurora Tristão, 166 - Bandeirantes. Tel.: (32) 3221-9970Boi na Curva: Rua Luíza Rocha, 117- Sta Terezinha. Tel: (32) 3224-3043Cervejaria Barbante: Av. Senhor dos Passos, 1531- São Pedro. Tel.: (32) 3231-2879Mr. Tuga’s: Rua Otília de Souza Leal, 310- Nova Califórnia. Tel.: (32) 3233-0036

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A Platéia no Teatro Brasileiro

Trabalho dos alunos: Márcio H. Silva e Emílio P. Silva


“A PLATÉIA DO TEATRO BRASILEIRO”
Uma das mais antigas platéias da história, desde a Grécia Antiga o teatro encantou e encanta bilhares de pessoas em todo o mundo por mais de 2000 anos. Atenta para as revelações e desfechos de inúmeras histórias, a platéia de crianças, senhoras e senhores aplaudem obras milenares que até os dias atuais são representadas em diversos palcos do planeta. No entanto, nossa reportagem propõe um tema que busque um perfil para a platéia do teatro brasileiro, no que ela procura e sua participação.
Historicamente, há uma tentativa dos “fazedores” teatrais no Brasil em resgatar a platéia perdida com a elitização ocorrida depois da década de 60. O Regime Militar teve papel fundamental nesta mudança quando impediu as produções com linguagens mais populares e próximas da realidade brasileira naquele período, fazendo com que o teatro se distanciasse da população de renda mais baixa no país.
Os anos 70 e 80 talvez pela situação política e financeira, abriram espaço para as grandes e caras produções, promovendo desta forma a diminuição de público, a dificuldade ao acesso para as camadas menos privilegiadas e disseminou a idéia de que teatro era uma arte para os ricos. Foi neste período também, que tão logo percebida a falência de público nos espetáculos, começaram as campanhas das “kombis” os movimentos federativos, de grupos etc; na preocupação de novamente “a curto prazo” popularizar a arte.
Os artistas de teatro, principalmente os fazedores dedicados à arte teatral pura, no caso os mais prejudicados com a crise, viram esvaziar os seus teatros e bolsos, impedindo em muitos casos a continuidade do trabalho. A ascensão da televisão e a multiplicação deste aparelho em todos os lares também “prendeu” em suas poltronas domésticas o expectador do teatro e em seguida a evolução técnica com vídeo cassete, DVDs entre outros,fatores que levaram à decadência do público teatral, sem entrar nos detalhes da queda da qualidade dos trabalhos, que sem dinheiro, sem investimento, sem políticas públicas para a cultura e sobretudo sem motivação dos seus fazedores, também não favoreceram na questão de preservar ou aumentar a platéia.

Pontos de Vista – Progresso e as pedras no caminho
“No Brasil, infelizmente, algumas pessoas costumam dizer que cultura é privilégio de ricos; e pobre gosta de futebol e fofoca. Tolice pura! Estamos caminhando para uma platéia mais diversificada e crítica”. Observa Carla Lins – professora de Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela confirma a presença de pessoas das mais variadas classes sociais em eventos teatrais em todo o país. Afirma que estamos progredindo, “a platéia está aprendendo não só a assistir espetáculos, mas como se faz teatro”. Atualmente o artista sobe no palco com a cobrança de uma platéia mais atenta e exigente.
Promoção de festivais e popularização do teatro, como exemplo, Juiz de Fora, que por alguns anos abraça esta causa, dá possibilidade a todos os seus cidadãos assistir diversos estilos teatrais, julgamento e formatação do espetáculo (montagens de cenários, iluminação e etc) com preços acessíveis. e até mesmo gratuitamente. Isso ocasiona um maior conhecimento à platéia, deixando-a familiarizada com os atos e interpretações.
Poucas são as pessoas que possuem olhar técnico num espetáculo, no entanto, encontramos algumas “figuras carimbadas”, que possuem uma visão crítica, tais como artistas, diretores, produtores e agora algumas pessoas que pagam seus ingressos. “Não é por causa de dinheiro, o teatro esta ao alcance de todos com preços bem interessantes, o que falta é a platéia aderir às artes cênicas como um costume”.
De outro lado, nossa reportagem conversou com o ex-Secretário de Cultura e também organizador do FACE (Festival de Artes Cênicas) de Conselheiro Lafayete, o Sr Geraldo Lafayette, que acrescenta: “Atualmente no Brasil temos dois perfis de platéia. A platéia que paga pra ter uma opção de lazer e que está principalmente nas grandes cidades onde as produções são feitas através das leis de incentivo, do investimento de grandes empresas e com atores, atrizes, diretores e técnicos um tanto mais preparados para produzir o que está no gosto do público brasileiro. Teatro cheio ou tem algum ator “global”, ou cenas de sexo explicito, gente nua, ou peças onde o “besterol” corre solto, sem nenhum critério, sem nenhuma função, que não fazer rir e ocupar uma ou duas horas daqueles que pagam para assistir a sua própria ridicularização” -uma platéia menos exigente. Um outro perfil ainda bem menor, é aquele que busca no teatro a expressão de vida ou da vida que lhe é peculiar. Nas grandes cidades poucas produções neste sentido. E estas poucas, acabam “morrendo na praia” com pouca vida útil, uma vez que atrair público que a banque é quase impossível.
Tem a platéia das chamadas “campanhas de popularização” onde fica possível avaliar o que a ela gosta de ver. Paralelo esta classe, colocamos também o público no interior, que tem perfil ligado ao público do país, porém há tempos está cerceado de bons espetáculos, uma vez que não é vantajoso pra uma companhia, viajar por cidades onde os espaços estão abandonados, sem estrutura e com muito pouca sensibilidade de apoio e participação neste tipo de atividade. Resistem em algumas cidades, grupos que “garimpam” um público com suas produções parcas, pobres, amadoras que mesmo não tirando seus valores, colocam em risco o resgate da platéia que muitas vezes principiante, julga o teatro pela única peça (ruim) que vê. Daí não volta mais. E neste ponto julgar quem? Quem é o culpado? O melhor seria não fazer? Ou fazer melhor? E neste último caso, fazer melhor como? Com que informação? Com que recurso?
E no final desta produção, quanto tempo dura uma temporada de uma destas peças produzidas no interior, com a platéia que uma cidade de 30, 40 mil habitantes tem? Enfim, o perfil da platéia brasileira é este. Um povo que ainda não conhece o Teatro que tem ou o Teatro que pode ter.

Vá ao teatro
Como atrair a platéia? Em tempos de televisão e internet, é preciso buscar alternativas e vencer as altas tecnologias. Até então, é relevante indicar o interesse da platéia para um espetáculo que lhe traga uma troca, ou seja, conteúdo, diversão ou até mesmo os dois.
Como indicar o perfil da extensa platéia brasileira? Em contato com várias pessoas da área, notamos que é unânime indicar uma platéia com tendências televisivas. O uso de atores e atrizes famosos. Inclusive, alguns espetáculos tornaram-se televisivos, exemplo de Sai de baixo e Toma Lá, da cá da Rede Globo de Televisão. É lógico que não podemos afirmar que 100% da platéia tem esse interesse, mas uma boa parcela dela sim.
Segundo o produtor da Cia Ribalta de Atores da cidade de Juiz de Fora, Mário Galvanni, o que atrai a platéia ao teatro vai além. Um público intelectualizado, que aprecia um espetáculo de qualidade (técnica, cênica), que tenha uma sensibilidade aguçada e análise cultural e profunda, conforme a proposta do espetáculo, tem um acompanhamento ímpar (pontual, interessado, atento e crítico). Há aquela platéia, que busca a diversão, o entretenimento, o relaxamento, o que torna um trabalho bem comercial para uma Companhia ou Grupo de Teatro. Ir ao teatro, requer uma conquista, um interesse.
A platéia é atraída pela propaganda. Anúncios, um excelente material, colorido, chamadas em rádios, jornais, internet e até mesmo em TV, se possível. O principal é a montagem de um excelente espetáculo, independente de seu estilo. “Nada impede que a platéia se divirta assistindo Shakespeare. Desde que a montagem tenha isso como objetivo. Quem tem que pensar é o ator, ou o fazedor de teatro. Ao pensar num texto, num espetáculo, pense antes em para quem você quer montar. Não faça teatro para você. Faça para quem vem assisti-lo” – Carla Lins (Professora Artes Cênicas UFRJ).
“Acredito que nós temos gente pra ser platéia de qualquer estilo ou categoria. Crianças por exemplo, deveriam ser platéia de infantis. E acredito nesta categoria como uma mola propulsora para se construir uma nova platéia futura. A geração que hoje representam os pais das nossas crianças, é filha de um período de estagnação do Teatro Brasileiro, principalmente nas cidades do interior. Cabe aos privilegiados atores atuais, ganhar ou criar oportunidades para que as crianças de hoje se tornem a nossa platéia de amanhã. E aí, está em nossas mãos escolher pra elas, as crianças, o estilo que apreciarão mais tarde. Se nossos infantis forem produzidos de forma irresponsável, sem compromissos pedagógicos, didáticos, sociais, literários, morais; nossas crianças serão platéias dos espetáculos vazios, descompromissados com o conteúdo e a técnica” – Álvaro Barcellos, ator e produtor da Cia Cênica Nau de Ícaros – São Paulo (SP)..


Enquete
Nossa reportagem foi ao centro de Juiz de Fora e perguntou a diversas pessoas sobre a popularização do teatro.
- Você acha que o teatro está popularizando?
Responderam que sim 74%
Responderam que não 26%
Fontes consultadas: 20 pessoas no centro da cidade.
Expedito de Assis, 57 anos, auxiliar de saúde.
Sim. Freqüento os espaços culturais de Juiz de Fora e vejo que o público tem crescido muito.

Paulo Henrique de Oliveira, 40 anos, comerciante.
Sim. Sempre vêm bons grupos se apresentarem aqui.

Marceli Silveira, 22 anos, estudante.
Sim. O preço é bacana e sempre que posso venho com as amigas.

Claudio Eduardo da Silva. 27 anos, representante comercial.
Não. Ainda falta atingir a periferia.

A platéia – 7 minutos
Um espetáculo que pode explicar um fio da atual platéia brasileira é a comédia de Antônio Fagundes,”7 minutos”. Trata de uma comédia divertidíssima e inteligente sobre uma noite em que algumas tosses interrompem a peça Macbeth de Shakespeare. Possuído, o ator já velho de carreira, resolve fazer um acerto de contas com a platéia, o que não vai ser fácil. Elenco e espectadores partem para um insólito embate em que o que está em questão é o amor ao teatro e as diferentes formas de vivê-lo.
De repente, um Macbeth interrompido... o ator irritado “vira a mesa”, denunciando o público sem pena e nem pudor enquanto conta um pouco da história do teatro, da realidade da televisão e da tristeza que cabe nos nossos sete minutos de cada dia. Quem nunca ficou irritado com os "pequenos" barulhos e interrupções que fazem parte da platéia em um espetáculo? Celular, papel de bala, conversas, tosses, alguém chegando atrasado... uma lista interminável. E, se você se incomoda, imagine quem está no palco! Segundo o próprio autor, Antônio Fagundes, relatado no DVD do espetáculo (2002, Globo Filmes), tudo o que ocorre na peça é baseado em fatos acontecidos com ele.
O espetáculo foi interpretado recentemente pela Atuar_te – Cia Teatral da Universidade Federal de Viçosa no 5º Festival de Teatro de São João Nepomuceno e recebeu 7 prêmios, entre eles, o segundo lugar geral e melhor espetáculo pelo Júri Popular. Interessante, a platéia, alvo do espetáculo, deu ao grupo umas das principais premiações do evento. Na saída do teatro, perguntamos a platéia sobre a peça, as respostas em sua maioria indicaram tratar de um espetáculo divertido e de muita reflexão.
A Sra Dalila Freitas, 62 anos, aposentada, gostou muito do que assistiu e assumiu que já cometeu vários escorregões citados em “7 minutos”. “Foi uma prestação de contas com a platéia, o ator (Fabrício Henrique) é excelente e passou o texto de uma forma clara e sem ofensas. De certa maneira fiquei envergonhada, não estamos na sala de casa, deitados no sofá, comendo biscoitinhos e com o controle remoto na mão, é arte, é teatro. A platéia faz parte disso tudo. Aprendi que se comportarmos a altura do espetáculo teremos o melhor – disse Dalila à nossa reportagem.
Fabrício Henrique disse que depois de interpretar “7 minutos” percebeu a verdadeira função de uma platéia. Confessa nunca ter dado muita atenção a esse fato e que acreditava ter uma quarta parede entre o palco e as cadeiras do teatro. Mas confessa que o espetáculo é tudo, inclusive a platéia. “É dela que se tem o retorno, não somos TV que medimos audiência, somos teatro, sentimos emoções que vem de nosso público. A nossa proposta é ajudar o teatro, não somente nossa apresentação. Queremos que todas as pessoas que nos assistem aprendam um pouco e usem as boas maneiras de comportamento de platéia para o resto de suas vidas". – disse Fabrício Henrique Figueiredo, ator e diretor Atuar_te – Cia Teatral (UFV).

Conversa
Conversamos com Wesley Azalim, encarregado do Pró-Música (Juiz de Fora) e discutimos alguns assuntos sobre platéia. Ele enriqueceu nossa reportagem passando sua experiência naquele espaço cultural.
Qual é o estilo teatral que tem recebido o maior público?
Wesley - Com certeza é a comédia.
Qual é o comportamento dessa platéia?
Wesley - muito bacana, é cada vez mais jovem e participa quando é proposto.
Este espaço participa da valorização do cinema?
Wesley - Sim. Sempre a partir de janeiro começa a campanha de popularização do teatro pela prefeitura e este espaço é cedido.
Que tipo de público freqüenta mais o teatro atualmente?
Wesley - Olha, depende da peça e do espaço. Aqui o povão tá freqüentando mais, pois, o preço é sete reais, bem acessível.

A platéia é quem manda
Improvisos. Nos últimos anos, o improviso tem sido um novo estilo apreciado por várias platéias no Brasil e no mundo. O público exerce interrupções e opiniões para aquilo que será apresentado, com escolhas de temas e participações nos palcos. A idéia começou em barzinhos, restaurantes e hoje ganhou palcos de todo o país. Carla Lins afirma que muito do sucesso dos improvisos devem aos avanços tecnológicos, TV’s Digitais, Internet no qual o usuário tem o domínio total das ações a serem seguidas. O fato de escolher o que se quer, remete a platéia um bem estar na escolha de temas e situações. Mas o lado negativo desse estilo é o excesso de liberdade proposta pelos artistas, fazendo com que o espetáculo perca qualidade, apresentando palavrões e babozeiras intermináveis. Enfim, uma perda irreparável de tempo e intelectualidade para a platéia.

“Desconsidero improvisos e stand’up como teatro. É preciso ter técnica avançada de improviso e muito “time”, é elogiável, mas em termo de arte, fica longe do que esperamos assistir”. – Lucas Menezes – diretor Cia Teatral Rastro dos Astros – Ubá MG.

O estilo traz muitas pessoas para as platéias, inclusive existem programas de TV em canal aberto. A Rede Bandeirantes apresenta "Tudo é improviso" com um auditório bem animado, banda musical e um programa repleto de brincadeiras. É bem aceito por parte de um público jovem, em média de 15 a 30 anos de idade. E a audiência da emissora é satisfatória no horário.

"Temos uma platéia sem definição. A cada lugar que apresentamos em Juiz de Fora e região encaramos uma platéia diferente. Ficamos ansiosos para saber o que eles realmente procuram e às vezes nem descobrimos. Gosto de fazer os espetáculos em teatros, pois em bares e restaurantes nos deparamos com pessoas embriagadas e conversando junto com a nossa apresentação". - disse Fabrício Sereno, ator e diretor do Grupo Improvício de Juiz de Fora.


Aplausos

De alguma forma o povo brasileiro convive com as dificuldades todos os dias e sendo o “Teatro - o duplo da vida”, muitas vezes as pessoas não gostam de se ver novamente e trazer pra si o reflexo de todas as suas angustias. Este fator leva a crer que a maioria do público teatral prefere assistir às comédias onde o pensamento e o raciocínio não são forçados e não sai do teatro pensando em como dar continuidade à sua vida. O que deveria acontecer. Mas, é preciso dizer que quem faz a sua platéia é o ator, o diretor, o produtor, então é possível achar na vida do brasileiro muitas coisas boas, bonitas, alegre, divertida, feliz e importante. Miremos em nossa literatura, nas nossas cidades, nas nossas histórias, na nossa música. Por que o Teatro precisa ser banalizado? Tem como fazer a platéia brasileira se encantar pelo Brasil e por si mesmo; o segredo da platéia está no “como” transpor para o palco, a cena brasileira. A platéia quer ver o seu poder de Teatralidade. Se o espetáculo for bom, teremos platéia pra ele.

Reportagem Final

O obstáculo é o governo

Skatistas de Juiz de Fora têm que fazer verdadeiras manobras para conseguir praticar o esporte


Aparecida Ferreira

Renan Vieira

Vitor Vizeu


Quem não sonhou em ser um jogador de futebol? Pelo menos no Brasil, a grande maioria dos jovens já sonhou. O futebol foi eleito por unanimidade paixão nacional e, consequentemente, é o que mais atrai a atenção dos brasileiros. Na contramão desse cenário, outro esporte vem batalhando seu espaço. Há tempos visto como marginal, hoje o skate esta em terceiro lugar no ranking dos mais praticados. Em Juiz de Fora a história não é diferente. No entanto, mesmo com o crescente número de adeptos, o esporte ainda não recebe a atenção merecida e as condições para a prática continuam precárias.

Ao contrário do incentivo que cidades como São Paulo recebem, os skatistas de Juiz de Fora ainda sofrem com o descaso dos órgãos públicos responsáveis pelos esportes. Como forma de obter visibilidade, praticantes criaram uma associação que pudesse representá-los perante as autoridades. A Associação Juizforana de Skate, AJS, surgiu com esta finalidade, e conseguiu algumas melhorias durante os dez anos de sua existência. Mas quando se trata de reivindicações perante os governantes o caminho não é tão fácil.

Mobilização dos skatistas não faltou. “Em 1999, fizemos uma Audiência Pública na câmara para reivindicarmos a construção de pistas em áreas de lazer dos bairros da cidade. Foi o primeiro passo para melhorar as condições do skate.” lembra Gabriel dos Santos Rocha, o Biel, ex-deputado e um dos fundadores da AJS. Dessa audiência foram colhidos alguns frutos, porém sem a eficiência desejada.




Muitos projetos e pouca execução

Quando o projeto de construção de espaços destinados aos skatistas foi aprovado na Câmara Municipal, Frederico Batitucci Halfeld e Willian Gonçalves Ribeiro de Castro, arquiteto e engenheiro, respectivamente, projetaram as pistas e as plantas foram entregues à Prefeitura para que fosse executada a obra. “O Fred era o cara perfeito para fazer aquelas plantas, porque ele também é skatista, sabe bem qual é a nossa necessidade”, afirma Diogo Groselha, atual presidente da Associação.

A execução não foi fiel ao planejamento e o resultado pode ser visto hoje. As pistas estão em péssimas condições, esburacadas, sem proteção e fora da metragem indicada. Carlos Henrique, o Tutuca, morador da zona norte de Juiz de Fora e skatista, afirma que, do jeito que as pistas estão, é impossível praticar o esporte. Como ele, outros praticantes reclamam dos problemas encontrados.

Conseqüência disso é o aumento de skatistas andando nas ruas da cidade, principalmente no Centro. Isso representa um risco não só para o praticante, mas também para os pedestres e outros automóveis. O presidente da Associação afirma que, devido ao tempo que pratica o esporte, já adquiriu a experiência necessária para andar em meio do trânsito, mas ele se preocupa com os novos praticantes, que ainda não possuem esta experiência, e podem sofrer acidentes.

A população acaba não se preocupando tanto com o esportista, dando foco para outros problemas, como perder o retrovisor, arranhar a lateral do carro e até mesmo com o barulho e danificações nas calçadas e portarias de prédios. Não deixam de ser problemas importantes, mas a atenção também deveria ser voltada para o skatista. “Até entendo que eles não têm lugar para andar, mas rua não é lugar de skate.” diz Letícia Araújo, estudante. O skatista Gláucio Silva, o Xuxa, conta que já sofreu acidentes por estar andando na rua. “Os carros às vezes não conseguem enxergar, já caí e me arranhei todo, por sorte não foi nada grave”. Geralmente o esportista não usa os equipamentos de proteção, o que aumenta ainda mais os riscos. “Se as pistas estivessem em boas condições, não haveria tanta gente andando de skate nas ruas, e os acidentes poderiam ser evitados”, reafirma Diogo Groselha.


Aumento do número de skatistas pode ajudar conseguir melhorias para o esporte

Os números revelam, em pesquisa realizada pela Datafolha, que hoje no Brasil mais de três milhões e oitocentos e sessenta mil pessoas andam de skate. Os dados mostram que houve um aumento de 20% em relação ao último levantamento, realizado em 2006 também pela Datafolha, que apontava a média de três milhões e duzentos mil skatistas. A Confederação Brasileira de Skate, CBSk, órgão máximo do skate brasileiro, espera que o esporte atinja a marca de quatro milhões de praticantes no final de 2010.

O aumento do número de skatistas traz benefícios claros para a evolução do esporte no Brasil. “Ao identificar o aumento do número de praticantes, teremos mais argumentos para defender projetos de melhoria para o Skate, junto ao poder público ou a patrocinadores em potencial. O resultado faz com que aumente a responsabilidade e até o dever dos governos (federal, estadual e municipal) em investirem em políticas públicas voltadas para o Skate,” avalia Marcelo Santos, presidente da CBSk.

A falta de infra-estrutura para a prática esportiva não é um problema exclusivo de Juiz de Fora. Apesar do cenário positivo, resultado da melhora da realidade econômica do país e do aumento do poder de compra da população, ainda há muito ser feito para que o skate continue evoluindo como esporte. O número total de pistas no país é de 1024, de acordo com a fonte mais recente do Guia de Pistas da CEMPORCENTOSKATE de 2006, quantidade que não acompanha o número de praticantes no país.

“Um dos fatores que dificulta o crescimento do número de pistas na mesma proporção que o número de praticantes, é que geralmente se trata de obras públicas realizadas por prefeituras ou governos estaduais. E como sabemos, no nosso país, a execução de qualquer obra pública é muito demorada e burocrática, o que às vezes faz com que uma pista demore anos para sair do papel, até ser inaugurada”, analisa Marcelo Santos.


Prefeitura diverge de skatistas em relação ao investimento


Não existe um levantamento com o número de skatistas de Juiz de Fora. A AJS estima que a cidade tenha algo em torno de quatro mil praticantes. A Secretaria de Esportes de Juiz de Fora afirma que não tem esses dados. A mesma secretaria diz que a cidade conta com pistas que abrangem toda a região. Quanto aos investimentos, há divergência de opiniões entre praticantes e Prefeitura. “O skate é o esporte urbano mais equipado da cidade. Em toda parte existe um local para a prática do skate. E todos os projetos de futuras praças, quando a área é grande, há projeto de pista de skate, que agora, após contato da AJS, será acompanhada por um engenheiro experiente em construção de pistas de skate. No esporte ciclismo, por exemplo, não possui nenhum local destinado para sua prática, já que a cidade não comportaria uma ciclovia na região central.” explica Fabiana Duarte, responsável pelo setor Supervisão de Esportes Radicais, de Aventura e ligados à Natureza, vinculado à Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura de Juiz de Fora.

Perguntada sobre a segurança na prática do skate na cidade, Fabiana afirma que “a prática de qualquer esporte requer o uso de equipamento de proteção individual, os EPI, cada um dentro de suas especificidades. Os EPI necessários para a prática do skate são: capacete, joelheiras e cotoveleiras. Acredito que a maioria dos praticantes não use. E quanto ao local de prática, acredito que a maioria utilize os destinados para tal, ou outros seguros, como praças e áreas sem movimentação de veículos.”.

Skatistas de Juiz de Fora e governo concordam que há, sim, a necessidade de reforma e construção regulares das pistas de skate da cidade, porém nada parece estar sendo feito. Resta agora mobilização dos órgãos responsáveis. Os skatistas prometem não descansar enquanto o problema não seja resolvido. A arte de superar obstáculos é especialidade deles.


Movimento Empresa Júnior 2.0 - As empresas juniores na web

Digitar a expressão Empresa Júnior (EJ) no portal Google faz com que sejam exibidos mais de dois milhões de resultados. No site Cadê? o número é ainda mais impressionante: 19 milhões de ocorrências das palavras que caracterizam o Movimento Empresa Júnior (MEJ), que nasceu na França em 1967 e hoje é presente no mundo todo. E isso é só um dos reflexos da presença das EJs nas diversas ferramentas disponíveis na web.


Em meio a tantas possibilidades, um segmento em que as EJs brasileiras tem tido grande destaque ultimamente é o das redes sociais, começando pelos blogs, que oferecem uma incrível facilidade de publicação de conteúdos na internet. E não só eles, mas também é comum o uso dos sites Orkut e Facebook, redes de relacionamento que interconectam milhões de usuários em todo o planeta, agrupados por afinidades. Para se ter uma ideia da participação de empresários juniores no Orkut, as três maiores comunidades sobre o MEJ somam quase 7 mil usuários, e o número de tópicos e usuários localizados numa busca por “empresa júnior” excede a casa dos mil.

Além dessas redes podemos citar algumas outras, como o servidor de vídeos YouTube, e os de fotos, como o Flickr, que incrementam o uso da web, inserindo imagem e movimento ao texto digital.


Mas a ferramenta mais utilizada atualmente é o Twitter, site no qual os usuários podem publicar mensagens de até 140 caracteres, e seguem uma dinâmica em que cada um recebe na página principal as mensagens dos perfis que julgar interessante. Desta forma a comunicação se torna muito direcionada, uma vez que só lê o que você posta quem se interessa no que você tem para dizer, ao mesmo tempo em que só chega a você o que de fato lhe interessa.


Muitas EJs entenderam bem as potencialidades do Twitter e estão fazendo um ótimo uso dessa ferramenta. Seguindo uma tendência global, algumas empresas juniores tem se posicionado de forma ativa no Twitter, aproveitando a proximidade que ele oferece com os diversos públicos interessados no que elas podem oferecer.


O perfil da Acesso Comunicação Jr. (empresa júnior de comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF) é prova disso. Com mais de mil seguidores, o Twitter da empresa se destaca por ter alcançado tamanha popularidade. As postagens seguem o conceito jovem que caracteriza a empresa, e a interação com outros usuários é frequente.


“Por ser uma EJ de comunicação, a Acesso tinha quase que uma obrigação de acompanhar as novidades que surgiram nesse segmento nos últimos anos. Há cerca de um ano criamos nosso perfil e ele se tornou uma ferramenta importantíssima, tanto na divulgação da empresa, quanto no contato com nossos clientes, ex-membros e alunos da faculdade”, afirma o atual presidente e ex-diretor de Marketing e Relações Públicas da Acesso, Pedro Guedes.


Outro segredo do sucesso é a prática de “retwittar” mensagens de outros perfis e encaminhar links de páginas interessantes. No Twitter, tão importante quanto publicar um bom conteúdo é compartilhar com seus seguidores o que você entende como sendo algo que vale a pena.


É o que fazem os consultores do Centro Integrado de Tecnologia de Informação (CITi), empresa júnior do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Segundo o ex-gestor de Marketing e atual gestor de Projetos, Edenilson Dantas, todo o conteúdo relacionado à área da empresa que os consultores lêem e acham interessante é postado no Twitter.


O CITi elaborou um material impresso específico para a divulgação do perfil, quando ele foi criado, o que mostra a importância que a empresa dá para o Twitter. Outra evidência disso é o uso que a empresa faz de ferramentas disponíveis na web que potencializam o uso do Twitter, permitindo mensurar o número de visitas aos links postados, horários das visitas, seguidores mais fiéis, dentre outras funções. “A visibilidade do nosso perfil foi crescendo. Percebemos que quando a frequência de postagens aumenta, o número de seguidores cresce também”, afirma ainda Edenilson.


Outra EJ que já percebeu a visibilidade que o Twitter proporciona é a Ecos Jr., empresa júnior de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Desde a implantação do perfil as visitas ao site da empresa têm crescido, como conta a Diretora de Jornalismo, Diovana Renoldi. A tática é investir numa divulgação pessoal. “Os consultores retwittam as postagens da empresa, o que faz com que o alcance das nossas mensagens seja aumentado” afirma Diovana. Outra prática interessante é o costume dos consultores de se identificarem em algumas situações com o nome de usuário do Twitter. “Quando a situação permite, me identifico não como Diovana, mas como @diovanarenoldi”, comenta a diretora.


Essa identificação facilita a interação da empresa com os seguidores, resultando em benefícios, como afirma Tácio Lobo, Diretor de Marketing da Empresa Júnior de Administração da Universidade Federal da Bahia, ADM UFBA. “Participamos de uma feira de empreendedorismo no ano passado e utilizamos o Twitter durante o evento, interagindo com outras empresas participantes. Isso gerou um retorno muito positivo”, conta Tácio.


A EjCM, empresa de computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, também investe nessa interação com os usuários. “Por acompanharmos de perto o mundo digital, sabemos muito bem a importância de trabalhar com as redes sociais”, afirma o Diretor de Marketing e Relações Públicas da empresa, Hugo Ayres. Exemplo disso foi a parceria que a EjCM fez com a organização do V Prêmio Fejemg, evento do Movimento Empresa Júnior mineiro que foi realizado no ano passado em Juiz de Fora. A empresa fez uma promoção entre os seguidores do Twitter do evento, presenteando com uma inscrição o usuário que escrevesse a frase mais criativa com um determinado tema. A idéia foi muito bem sucedida, alavancando o número de seguidores do perfil e confirmando o sucesso de promoções como essa, hoje comuns no Twitter.


Os exemplos não param por aí, e quem entende do assunto afirma que as empresas juniores estão no rumo certo ao investirem nas redes sociais. “É muito gratificante fazer parte deste momento histórico onde as empresas, seja lá qual for seu porte, estão entendendo a importância de uma boa comunicação fazendo uso das mídias sociais, proporcionando a seus stakeholders uma comunicação mais próxima e aberta”. É o que diz Vinícius Mont Serrat, ex-membro colaborador da CAMPE Consultoria (empresa júnior de Administração e Economia da UFJF) e atual sócio da i9 Social Media, empresa sênior especializada em mídias sociais.


Ranking - Empresas Juniores com mais seguidores no Twitter

1) @acessojr - Acesso Comunicação Jr. - Juiz de Fora, MG

2) @empresajunior - Empresa Júnior da PUC Rio - Rio de Janeiro, RJ

3) @campe - CAMPE Consultoria - Juiz de Fora, MG

4) @ecosjr - Ecos Jr. - Vitória, ES

5) @criaufmg - CRIA UFMG Jr. - Belo Horizonte, MG

6) @rumosturismo - Rumos - Juiz de Fora, MG

7) @ejadmufba - ADM UFBA - Salvador, BA

8) @informaticajr - Informática Júnior - Belo Horizonte, MG

9) @radarciti - CITi - Recife, PE

10) @farmaciajr - Farmácia Jr. - Belo Horizonte, MG


Reportagem produzida por Conrado Moreira e Mateus Almeida

Processo de Informação II

Professora Fernanda Fernandes

A educação e a Inclusão Social

Reportagem: Pablo Abreu

Uma placa azul escrita de branco, bem pequena, timidamente apresenta o lugar. Depois da placa, uma rua estreita com uma curva. Depois da curva, um portão antigo e um pátio. No pátio, uma árvore de um lado e do outro uma construção com alguns basculantes quebrados pertencente ao antigo Centro de Assistência do Menor Excepcional (CAME). Depois, as paredes vermelhas e brancas e depois as histórias de vida e a luta por reconhecimento. Estamos na Escola Estadual Maria das Dores de Souza que a 55 anos educa crianças e jovens com deficiências, mas que hoje sofre com a dúvida de um destino ainda indeciso frente a nova política da Inclusão Social.

A escola, as pessoas e a vida

Pouco antes do recreio a professora Leila Jannuzi propõe uma dinâmica aos alunos envolvendo um cacho de bananas para tentar transmitir aos mesmos noções da cor amarela, do amadurecimento ou do nome da fruta. “Nós sempre tentamos trazer alguma coisa do cotidiano como instrumentos de ensino para dentro das salas de aula”, diz. Vez ou outra a professora grita com o aluno ou se mostra séria o suficiente para tentar controlar os adolescentes dentro da sala de aula. Mas não consegue. Os minutos que antecedem o recreio são sempre um dos mais esperados.

Soa o sino e todos saem. No galpão do refeitório está a psicóloga Eveline Fávero, que trabalha no turno da manhã. Ela ajuda a coordenar os alunos durante a merenda. Na escola cada um faz um pouco de tudo. A diretora ajuda a podar a árvore da entrada, as cozinheiras a dar bronca, a supervisora a aconselhá-los. Todos por lá tem um pouco de pai e mãe, ora sendo rígidos o suficiente para buscar a ordem, ora abraçando qualquer tipo de desconsolo.

Aos poucos as longas mesas e bancos azul-claros vão sendo ocupadas. O salão não é muito grande e muitos alunos tem faltado de aula. Parece que eles não gostam muito de frio. Segundo a diretora Nilva Aparecida de Paiva quando chega o inverno a incidência de faltas aumentam.

O ambiente não é nem muito silencioso, nem muito barulhento. Os decibéis só aumentam quando um ou outro aluno deseja repetir a merenda. O prato do dia é uma macarronada, com cheiro de molho de tomate e tempero que pode ser sentido até alguns metros de distância para além do refeitório. No momento em que o estudante se exalta, entra a psicóloga em ação e em pouco tempo está tudo controlado.

Depois da merenda os alunos se espalham pelo pátio interno e dão um show de interatividade e carisma. Correm, implicam e brincam uns com os outros como toda criança gosta de fazer. Alguns passam o recreio todo dançando as músicas que ouvem no rádio, com especial destaque para o tal do “rebolation”. O parquinho fica fechado. Seu uso se restringe a atividades extras supervisionadas por algum funcionário. No final do pátio tem uma pequena quadra usada tanto para as aulas de educação física quanto para as peladas durante o intervalo. Como sempre os meninos são os que mais gostam de futebol. “Você é qual time?”, pergunta o pequeno João. “Ih, Cruzeiro! Eu torço pro Flamengo”, critica.

Em Juiz de Fora não tem muitas pessoas que defendam os times mineiros. A proximidade com o Rio de Janeiro e a tradição cultural da cidade reflete na preferência dos torcedores que na maioria torcem para os clubes cariocas, principalmente o Bota Fogo e o Flamengo. É assim também entre os alunos da escola. Quando a professora Elizete, apelidada entre os alunos com o famoso jargão que acompanha as professoras do primário, “tia”, sugere a atividade de colorir a bandeira do Brasil, os meninos reclamam. “Que bandeira feia”. Elizete explica que aquilo é o símbolo do nosso país e que estamos em época de Copa do Mundo e é preciso torcer pelo Brasil. “Eu não sou Brasil, tia. Eu sou Flamengo”, explica o fanático João.

Dos cerca de 170 alunos matriculados na escola, 16 participam de uma atividade extra, fora do período de aula, nas chamadas Oficinas de Arte e Madeira ou de Trabalhos Manuais. Lá eles experimentam e aprendem técnicas criativas com a professora Henriqueta Guedes de desenvolver bons trabalhos usando, muitas das vezes, materiais descartados. “Eles não tem muita criatividade, mas só precisam de um estímulo”, diz a professora. A maioria dos materiais para a confecção das peças vem de doações, “coisas simples, que as pessoas costumam não usar mais”, comenta Henriqueta. Além das oficinas, é oferecido aos alunos também aulas de dança e capoeira.

Nos murais espalhados pela escola, ainda estão estampados as amostras de carinho materno. São vários corações e desenhos com nomes e dizeres que celebraram o dia delas, das mães. Mulheres que não podem desanimar. Precisam de um acompanhamento sempre muito especial, que é incentivado também pela escola, segundo relatou a Supervisora de Ensino, Maria Helena Feres Valle. “Em todos os projetos que nós realizamos procuramos convidar a família. Almoço, murais, confraternizações, é sempre bom essa participação”, comenta ela.

Falta na escola o que geralmente falta em muitas outras escolas públicas, uma estrutura física capaz de atender às necessidades de todo e qualquer aluno. Quem anda por entre os corredores da instituição logo denota as principais necessidades. Não tem corrimão, piso antiderrapante, banheiro bem adaptado e rampa – a última foi construída sem planejamento e não ficou com uma inclinação adequada. “A escola tem que oferecer um acesso de modo que eles possam ir r vir com independência. Já tem algumas conquistas. Mas o caminho ainda é longo”, relata Maria Helena.

Mas se por fora a estrutura não encanta, por dentro ela dá aula de humanidade, provas de afetividade, notas de carisma e frases sem som. Diálogos de olhares, de abraços e gestos capazes de dizer aos homens mais dos que esses próprios conseguem dizer com os belos textos e palavras. As interpretações inusitadas e os possíveis espantos não são raros àqueles que não reconhecem a espontaneidade que reina por ali. A voz que por vezes foi socialmente silenciada hoje busca gritar mais alto ou no mesmo tom, para que, enfim, se sobressaia a igualdade.

Todos os alunos da Escola Estadual Maria das Dores, que a 65 anos carrega o posto de escola especial, tem algum tipo de deficiência. Autismo, Síndrome de Down, paralisia cerebral, deficiência mental, Síndrome de Landau-Kleffner, hiperativismo ou transtornos globais do desenvolvimento são as patologias que cercam a vida dos que lá estudam.

Depois de anos trabalhando a missão de oferecer uma formação integral de qualidade, que possa educar crianças e jovens para o exercício livre e responsável da cidadania de forma autônoma, a escola enfrenta um dilema, vivido também pelas outras escolas especiais. Com a política da inclusão social, a sua sobrevida como instrumento necessário à formação de alunos com deficiência alçaram a ideia de que o seu papel na educação está relegado ao passado. Surgiram teorias e suposições sobre o seu fim e a sua necessidade, mas as decisões ainda não passam de dúvidas. O que é certo são as alterações na sua função. A preferência hoje é que todas as crianças sejam matriculadas na rede regular de ensino. À escola especial, restaria o papel na educação de suprir as necessidades especiais dos alunos e desenvolver as especificidades que lhes limitam.

A Escola Estadual Maria das Dores (Complemento na reportagem impressa)

A escola foi fundada em 25 de agosto de 1955, por um grupo de mães esforçadas, que vendo o déficit de aprendizagem dos seus filhos, fundaram o Instituto Pestalozzi. Posteriormente foi criado o Centro de Assistência ao Menor Excepcional (CAME), para funcionar como um amparo às crianças com deficiência.

Em 1964, o Prefeito vigente na época, Dr. Ademar Resende de Andrade, cedeu um terreno de 6.000m², à rua Barão de Cataguases, 444, onde foi construída a sede do Instituto Pestalozzi. Somente em 1976 foi que ela seria denominada Escola Estadual.

O seu surgimento foi num período em que houve no Brasil uma grande explosão da criação de instituições voltadas para a educação de pessoas com deficiência, tendo como objetivo proporcionar ao aluno a conclusão da 4ª série do ensino fundamental, como a quase totalidade das escolas públicas da época.

No início eram 54 alunos. A escola só expandiu verdadeiramente nos anos 80, com a política da Integração, quando ela passou de “30 para uns 200 funcionários”, como comentou a supervisora Maria Helena.Na equipe havia médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, assistentes sociais, psicólogos, professores e amigos, todos empenhados em ajudar, ensinar e dar voz aos que, por muito tempo, ficaram calados diante da sociedade. Hoje basicamente só os últimos três grupos ainda estão na escola, lutando e defendendo seu papel como instituição fundamental para aqueles a quem a vida delegou uma necessidade especial.

A divisão das turmas levam em conta o desenvolvimento dos estudantes. Não é feito um agrupamento por patologias. Geralmente os alunos do turno da manhã são menos comprometidos que os que estudam à tarde.

A maioria dos estudantes são oriundos de famílias de baixa renda, o que confere um dos problemas mais vigentes da escola. Muitas famílias tem dificuldade, inclusive, de gastar com passagem para a mãe levar o filho para a instituição. Por isso, muitas delas ficam aguardando o término das aulas numa pequena sala improvisada num cômodo antigo na entrada da escola.

A idade dos alunos varia. No Maria das Dores tem estudantes de até 30 anos. O tempo de permanecia é diferente do ensino regular. Eles tem direito de ficar os nove anos estabelecidos para o ensino fundamental mais 50%, ou seja, um total de 13 anos e meio. Na escola eles podem concluir a quarta série do ensino fundamental. Depois disso, seguem para as escolas regulares.

Os alunos muito comprometidos, que não tem condição de estudarem numa escola regular, recebem ao final do período uma certificação de terminalidade específica. Estes não continuam os estudos no ensino regular.


A inclusão social

O paradigma da Inclusão Social surgiu em meados do século XIX, na Europa, como uma proposta de combate a exclusão aos benefícios da vida em sociedade, provocada pela diferença de classe social, educação, origem geográfica, sexualidade, idade, existência de deficiências ou preconceitos raciais. Não é, portanto, algo delimitado a educação ou a deficientes, mas sim abrange todos os grupos que por algum motivo são historicamente ou socialmente segregados.

Alguns anos foram necessários para que essas ideias repercutissem no mundo e se transformassem em planos concretos. No Brasil, os ideias para combater a exclusão social ganharam força na década de 80, se desenvolveu na década seguinte e atualmente vem delineando novas atitudes como no caso da educação.

O Brasil fez a opção pela educação inclusiva ao concordar com a “Declaração Mundial de Educação para Todos”, firmada em Jomtien, na Tailândia, em 1990 e ao mostrar consonância com os postulados produzidos em Salamanca (Espanha, 1994) na “Conferencia Mundial sobre Necessidades Educacionais: Acesso e Qualidade”. Lá foram desenvolvidos temas que preconizam que: toda a criança de todos os sexos tem direito fundamental à educação; a educação deve atender as diferenças de capacidade, interesses e necessidades de aprendizagem diversos dos alunos; deve levar em conta as diferenças individuais; os pais tem o direito de serem escutados sobre a forma de educação que melhor ajuste ao seu filho; deve-se desenvolver uma pedagogia centralizada na criança e que seja capaz de educar.

Antes do processo de inclusão a educação estava baseada no modelo integracionista, desenvolvido no Brasil na década de 80. O pressuposto era de que todo aluno precisava ser capaz de aprender no nível preestabelecido de ensino. Cabia ao aluno se adequar às estruturas física, administrativa, curricular, pedagógica e política da escola. E geralmente o aluno com deficiência era condicionado pela escola comum, de forma que somente numa escola especial ele seria capaz de efetivamente produzir.

Essas ideias mudaram frente à perspectiva da inclusão social. Agora a escola é quem que deve ser capaz de acolher todo tipo de aluno e de lhe oferecer uma educação de qualidade, compatível com as suas habilidades, necessidades e expectativas.

Enquanto o modelo integracionista era clínico-terapeutico, pois defendia a reabilitação ou cura como o caminho para inserção na sociedade, o modelo da inclusão é sócio-antropológico, pois respeita a diferença e a adversidade como forma de socialização. “A educação especial tratava a diferença pela diferença”, diz o professor da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal de Juiz de Fora Carlos Henrique Rodrigues, que trabalha também com a inclusão de surdos. “A inclusão defende que as diferenças fazem parte da sociedade e temos que aprender como lidar com ela”, explica.

Com o novo modelo as expectativas do ensino mudaram. O objetivo, referendado no Estatuto da Criança e do Adolescente, é de que toda criança deve estar matriculada preferencialmente na rede regular de ensino. À escola especial fica estabelecido uma função complementar na educação.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2007, determina qual a função do ensino especializado: “A educação especial direciona suas ações para o atendimento às especificidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas”.

Mas não é bem assim que vem acontecendo. Muitos professores do ensino especial ainda discordam da política da Inclusão Social e a escola especial está ficando em segundo plano. O caso da Escola Estadual Maria das Dores de Souza é um exemplo. Lá estudam apenas 20 alunos da inclusão, um número muito pequeno comparado aos anos anteriores.

Desde 1986 a escola oferecia um apoio aos alunos do ensino regular, mas a atual burocracia para inclusão tem impedido esse processo. Até 2005, o estado observava os alunos, fazia entrevistas e encaminhava ou não os mesmos para a escola especial. A partir desse ano as escolas regulares ficariam com a responsabilidade de mostrar as dificuldades do aluno com algum tipo de deficiência através de uma avaliação educacional, que até 2009 era feita no papel, e em 2010 passou a ser realizada num sistema eletrônico, sem que haja a necessidade de o aluno comparecer no local. Em Minas Gerais, a análise desse documento acontece em Belo Horizonte.

Segundo a supervisora da Escola Maria das Dores, Maria Helena Feres Valle, esse processo que avalia se o aluno participará ou não da escola não tem sido eficiente. “Será que não existe nada além disso? Da dificuldade desses alunos? Será que BH vai dar conta do estado inteiro, de ler uma por uma das avaliações e saber quem pode e quem não pode estar numa escola especial?”, questiona a supervisora.

As dúvidas são frutos de uma discussão maior que atinge diretamente a educação especial. “Com a inclusão parece que a escola especial começa a sair do cenário da educação”, lamenta Maria Helena. As divergências sobre sua continuidade e os reais benefícios da Inclusão Social ainda é dúvida.

Carlos Henrique ainda não reconhece que a educação inclusiva esteja sendo bem desenvolvida. “O que eu vi até agora está muito aquém do decreto 5626 (que traz leis específicas relacionadas à surdez). Juiz de fora nem concluiu o que é a proposta do decreto. Não tem nem a língua de sinais na sala de aula”, comenta.

O pressuposto de atender todo tipo de aluno nas escolas comuns demanda uma política para além da legislação e que altera também a estrutura das instituições de ensino superior que formarão os futuros profissionais dessas escolas.

Cada faculdade vem adotando uma perspectiva diferente para capacitar seus acadêmicos. Na UFJF, por exemplo, são oferecidos disciplinas específicas de gênero e sexualidade, questões ético-raciais, braille e libras, além de todas as demais disciplinas abordarem o tema quando possível. Ainda assim, o professor comenta que essa preparação não é completa e serve mais como um referencial. “É impossível o aluno sair da faculdade apto para qualquer diversidade. O objetivo da Faculdade é formar profissionais com conhecimento, competências e habilidades para que eles saibam como criar estratégias para lidar com a diversidade de forma reflexiva e crítica”, informa. “Na prática é que o acadêmico irá usar essa base para desenvolver formas de trabalhar com o aluno deficiente”, complementa.

Enquanto o dilema busca uma solução, os alunos ficam a mercê das dúvidas. Ainda será necessário um tempo para que as escolas regulares tenham profissionais conhecedores de todas as deficiências e para que as especiais encontrem uma função voltada mais para as especificidades.