terça-feira, 22 de julho de 2008

Em que consiste a santidade


Em que consiste a santidade? Pergunta um quase ateu, pervertido e senhor de si. Não seria Arnaldo Baptista um santo, o santo do psicodélico ou quem sabe o do LSD, que mesmo depois de desenganado ainda era capaz de cantar... e tocar... quem sabe até capaz de um novo salto do terceiro andar?!

Dostoievski foi em suma mais esperto que o mártir Cristo. Escreveu ele mesmo sua própria Bíblia e em vez de peregrinar foi ser mais um fodido na Sibéria. Tem seu nome cultuado entre o dos melhores escritores e quem ainda não o leu literalmente comete um pecado. Será que sua genialidade não pode ser mais divinal que o ato de transformar água em vinho?

E o que dizer dos cabeludos de Liverpool? Santos do rock. As gerações transcendem e o culto a esses garotos continua vivo, algo realmente imortal. Ainda assim, Lennon foi assassinado por um fã. Pode isso? Matar um santo?

Vinicius de Moraes, por sua vez, é o santo casamenteiro e boêmio. Um poeta celestial, também diplomata e da linhagem de Xangô. Será que ele não via no casamento um prazer incomum capaz de fazer o homem se redimir diante de divas, da beleza florescente de uma mulher? Se os santos fossem imortais ou com capacidade tamanha para ressuscitar certamente teria se casado pela décima vez. E olha que agora eu mostro aqui minha fraqueza e cometo o ato falho de apostar. Aposto que ele a conheceria numa noite carioca, ao som de um violão, acompanhado de charuto e bebida.

Capote, o santo do new journalism. Poderia um santo conviver com uma sexualidade controversa? Ele mostrou o sangue quente que corria em suas veias e foi capaz de sentir num ato de brutalidade, uma grande obra.

O que diria Kafka ao seu pai, numa carta, talvez por este nunca lida? Um santo dos conflitos entre pais e filhos que tinha o poder capaz de destrinchar a alma humana para mergulhar num relacionamento de conflito, quem sabe até de ódio? – pergunto eu, e extravasar aquilo que lhe apunhalava, a visão de mundo imposta por seu pai.

Thompson conseguiu inovar o jornalismo com o seu estilo manco gonzo e muitas vezes fazia seu trabalho com uma visão embaçada pelas drogas. E ainda teve a coragem de determinar o momento exato em que deveria parar de viver. Suicidou-se na frente de uma única testemunha, seu filho de cinco anos. Seria ele um insensível medíocre ou um santo determinado?

Em que consiste a santidade? Pergunta novamente o mesmo quase ateu, pervertido e senhor de si. Nas fábulas contadas por alguém? Nos legados inerentes à vida de seus progenitores? O mundo está cheio de santos, santos feitos. E nós, homens, sempre queremos ser só uma coisa, mais um santo.
(Texto de Pablo Abreu)

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