quarta-feira, 7 de julho de 2010

É dada a largada


É DADA A LARGADA

Com o início da veiculação das propagandas eleitorais no dia 6 de julho, começa oficialmente a corrida para as eleições. Com isso os políticos aproveitam o estado de euforia dos veículos midiáticos em sua vontade de produzir e a aliam aos eleitores, com vontade de absorver notícias e idéias de possíveis candidaturas.

Especialmente nesse momento de eleições, candidatos se utilizam desses meios para divulgar obras concluídas, trabalhos exercidos em prol da comunidade e uma boa imagem, que os favorecerão na corrida presidencial, estadual ou municipal. Procura-se abranger o maior número de pessoas e, para isso, os diversos meios de comunicação se fazem instrumentos de campanha. Porém, alguns deles ainda se equivocam ao deixar transparecer suas opiniões, faltando com a imparcialidade que é exigida aos meios de comunicação informativos.

Cargos a serem ocupados

Nas eleições de 2010 os cargos que estarão em disputa, além do Presidente da República, são governadores, senadores e deputados federais, estaduais e distrital - no caso de Brasília. No Senado, 54 das 81 cadeiras estarão em disputa. Como cada estado tem direito a três assentos, em 2010 serão eleitos dois senadores por estado. No caso da Câmara, todas as 513 cadeiras estarão em disputa, e cada estado tem direito a um número diferente de deputados federais, dependendo de seu número de habitantes. Nas Assembléias Legislativas (e na Câmara Legislativa do Distrito Federal), todos os 1.057 assentos do país deverão ser disputados, sendo que o número de deputados em cada estado varia de acordo com sua população.

Fiquem atentos às regras:

Pode:

- Carreata

- Panfletagem

- Carro de som

- Passeata

Não pode:

- Distribuir camisetas

- Cestas básicas

- Boné

- Brindes

- Propaganda em postes, viadutos, outdoor e locais públicos

Permitido com restrições:

- A realização de comícios, mas sem shows.

- Internet; utilização de blogs, redes sociais e mensagens instantâneas, somente com identificação do candidato e recurso do eleitor cancelar o serviço quando quiser.

Espaço na mídia:

Para que tantos cargos possam ser ocupados é necessário que o eleitor tome ciência dos candidatos e suas propostas. Os meios mais utilizados são a televisão e o rádio que, por isso, agregam às suas programações nessa época de eleição, o Horário Eleitoral Gratuito.

Este foi instituído pela lei Nº 4.737, em 15 de julho de 1965, que criou o Código Eleitoral Brasileiro. O horário de veiculação é dividido em dois períodos, na televisão um das 13h às 13h30m e das 20h30m às 21h, já no rádio, é das 7h às 7h30m e das 12h às 12h30m.

A propaganda não poderá ser exibida em outro horário, senão o reservado à Propaganda Gratuita. Essa regra busca igualar os candidatos, pois se fosse permitida a propaganda paga, apenas os candidatos mais favorecidos e que contassem com maior apoio de colaboradores, é que dominariam esses meios de comunicação.

Assessoria Política

Nesse processo de divulgação de candidaturas os assessores de imprensa dos políticos têm papel importante e trabalho dobrado. Vanessa Martins, assessora da vereadora Ana do

Padre Frederico, PDT, diz que para a campanha da vereadora foram feitos muitos santinhos, utilizaram carro de som, faixas e a propaganda eleitoral televisiva. Após ser eleita, veiculam obras realizadas e atos da vereadora principalmente através de um site próprio, que atualmente está desativado devido a um processo de reformulação e troca dos gerenciadores, e pelo site da Câmara Municipal. Perguntamos se ela percebe alguma diferença entre a assessoria de uma mulher – Ana do Padre Frederico é a única mulher ocupando um assento de vereadora em Juiz de Fora; ou se o tratamento e os cuidados com a veiculação de informações sobre a vereadora é o mesmo que para os demais vereadores. Para ela a assessoria de uma mulher se vale dos mesmos artifícios que a de um homem, pois os pontos a serem trabalhados são os mesmos: repassar textos do político, organizar a ida ou não a eventos e até tentar contornar um contratempo que surgir, o que ela afirma não ter acontecido até hoje com a vereadora. Quanto à estética, Vanessa diz que não orienta muito a vereadora porque ela, como toda mulher, gosta de se arrumar sozinha e possui um estilo próprio que a retrata muito bem, além da personalidade forte. Por isso não seleciona eventos a participar, procura ir a todos, como a própria vereadora nos disse “desde passeata da Igreja Evangélica a eventos de funk”.

A assessora diz que Ana do Padre Frederico ainda não pensa em utilizar das redes sociais para a divulgação do trabalhado realizado, mas prefere as notícias “boca a boca” da população ajudada, que surtem um efeito maior em conjunto ao site.

Em contrapartida, ao perguntarmos a Valéria Passos de Assis, assessora do vereador Tico-Tico (Antônio Martins), PP, ela relatou que seu trabalho concentra a marcação de reuniões e eventos adequados a uma boa imagem do político, consultorias a respeito dos assuntos dos projetos de leis, que engloba pesquisa na internet e de campo com o vereador e ajuda no vestuário, pois “ele sempre está vestido com a camiseta dele, há certos eventos que não condizem com esse tipo de roupa” – a camiseta traz os ideais de campanha e mandato do vereador. Além disso, produz panfletos e cria e envia releases sobre os atos de Tico-Tico para o jornalzinho produzidos por ele, chamado “A comunidade”, que circula na região nordeste de Juiz de Fora, especialmente no bairro Nossa Senhora das Graças.

Para Valéria ainda há muito que ser feito, especialmente em Juiz de Fora, no cenário de divulgação de atos dos políticos. “Há de se aproveitar os meios de comunicação para manter a sociedade informada do que acontece a favor dela. Por exemplo, o pouco que é veiculado a respeito do Tico-Tico é feito através do jornalzinho e das atualizações do site da Câmara, mas um programa de TV que transmitisse tudo isso, deixaria a sociedade muito mais informada não só do que ela adquiriu, mas também das reivindicações que pode fazer”.

O que pensar sobre isso

Muito há que se questionar em relação aos métodos utilizados para a divulgação de campanhas, o modo como são trabalhadas em cada veículo e suas eventuais imparcialidades. A cada eleição que acontece os candidatos tentam se adaptar à realidade da população, em tempos de tecnologia e mídias sociais, a política deixa um pouco seu caráter corpo a copo e passa a ser mais midiatizada.

O Doutor em Ciência Política, Paulo Roberto Figueira, destaca que “o novo palanque não é mais o palanque físico, é um palanque eletrônico”. Nas candidaturas presidenciais brasileiras, fazendo uma comparação com as eleições 20 anos atrás, o tempo destinado à gravação de programa eleitoral gratuito de rádio e televisão atualmente é evidentemente maior do que o número de cidades que serão visitadas por cada político.

Se imaginarmos o nível de pessoas que são alcançadas com a televisão, podemos perceber que mesmo que façam muitos comícios não irão atingir tanta gente como um programa de televisão em rede nacional. Hoje não dá mais pra compreender as estratégias dos atores da política se não na percepção de que a comunicação de massa tem uma função estratégica e talvez seja o lugar em que se definam as eleições.

De acordo com Paulo Roberto, “é a modificação perene de uma tendência de que a comunicação de massa seja o lugar onde a política se decide, onde se alcança o maior número de eleitores. Portanto, algo que tem um peso, uma dimensão estratégica maiores hoje do que tiveram em qualquer atuação anterior”.

Hoje podemos perceber que a mídia é o lugar onde a campanha se trava, e é cada vez mais a necessário saber usá-la. Há um deslocamento do espaço das pessoas da política de seus lugares tradicionais, para os meios de comunicação de massa. A política se midiatizou. É notável que os meios de comunicação têm um papel relevante na definição de agendas eleitorais e do processo eleitoral.

Como prova disso, os novos recursos, como a internet proporciona a participação efetiva do eleitor nas campanhas. Ele não é apenas receptor, pois comenta e até mesmo critica a campanha.

Beleza vs. Adequação

A beleza não é uma característica exigida aos políticos, mas o que se deve atentar é quanto à adequação. Não se considera a questão do belo ou da falta dele, mas a adequação de um conjunto de signos visuais a certas demandas de fatia do eleitorado.

Se imaginarmos que os candidatos usam roupa aleatoriamente, isso não é verdade. Eles vão usar todo um conjunto de escolhas que ajudam a construir e dar certo sentido àquele personagem que estão encarnando. Do mesmo modo em que há cada vez mais uma preocupação em perceber quais são as associações que determinadas faixas do eleitorado fazem com os vestuários.

Candidato ou Candidata?

Há uma mácula cultural da participação feminina no espaço político que presta nos baixos índices de parlamentares que, por exemplo, nós temos no congresso nacional brasileiro. Há uma disputa cultural a ser travada, pois não há qualquer necessidade de que esse seja um espaço predominantemente masculino. Hoje já são 51% de eleitoras no país, sendo razoável que se tenha uma participação convergente a esse número, certamente maior do que a que temos hoje.

Paulo Roberto ainda afirma que “não é uma invenção da mídia que haja uma visão socialmente consolidada de que política é algo masculino. Infelizmente é um valor cultural que está muito enraizado e equivocado na sociedade”.

Para saber mais sobre as Eleições 2010, basta acessar: Tribunal Superior Eleitoral.


Ana Luíza Benatti

Michelle Luciano

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