quarta-feira, 7 de julho de 2010

Comunicação 2.0: Como as mídias sociais estão mudando a forma das pessoas se relacionarem

Por Debora Cabral

Felipe Ferreira

Joicy alves

Twitter, Orkut e facebook são nomes cada vez mais comuns no dia-a-dia de cada brasileiro. O termo mídias sociais ou Social Media começou a ser difundido no final de 2008, e no final de 2009 atingiu seu ápice, sendo o termo relacionado a web mais pesquisado no buscador Google.

De acordo com o estrategista de mídias sociais Vinicius Montserrat os Brasileiros gastam em média 6 horas por semana em baladas, e 6 horas e 20 minutos em mídias sociais. Isto representa uma mudança radical nas interações sociais dos indivíduos.

As novas tecnologias estão influenciando a maneira das pessoas se apaixonarem, protestarem, e até de consumirem. “Empresas estão começando a visitar blogs para identificar sentimentos coletivos e segmentar suas campanhas de marketing” afirma Márcio ferreira, especialista em comunicação empresarial.

No entanto, usuários ainda divergem sobre sua utilização: Para a estudante Débora Lemos, 22, que mora longe de casa para cursar faculdade em Juiz de Fora, as mídias são uma forma de não perder contato os amigos e familiares que continuaram na cidade. Já para Rafael Bonsanto, 26, as mídias servem para conhecer novas pessoas com interesses comuns e discutir coisas que você não discutiri
a no dia-a-dia por falta de oportunidade nos ambientes comuns.

Perfis de usuários a parte, o Brasil é hoje considerado o país mais sociável do mundo de acordo com a ultima pesquisa do Ibope Net ratings. A média de amigos virtuais por aqui é de 365 contatos, enquanto no resto do mundo esse numero é de apenas 195 amigos. A pesquisa também mostrou que para os brasileiros o Orkut está deixando de ser sinônimo de rede social, e que sites como o twitter e o facebook estão em ascensão

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Amor e Amizade 2.0

Foi-se o tempo em que para procurar a sua alma gêmea as pessoas dependiam da distância geográfica. A internet encurtou distâncias e as mídias sociais facilitaram desde a busca pelo amor até mesmo a criação de laços de amizade não-convencionais, baseados em gostos em comum. Encontrar a cara-metade foi o caso do estudante de engenharia carioca Felipe Dias, 21, que conheceu seu atual namorado através de um aplicativo do Facebook, o Are you Interested?, e hoje já estão juntos a 10 meses. “Com relacionamentos na web, você tem formas mais dinâmicas e mais focadas de encontrar pessoas com interesses similares aos seus” afirma.

Com a professora Juliana Bertolazi, 25 e o Gourmet Thiago Arosio, 26 aconteceu um pouco diferente: os dois se conheceram em uma comunidade do Orkut destinada a um programa de TV. Formou-se ali um grupo de amigos, e depois de algum tempo, eles começaram a se encontrar. “O relacionamento sempre foi de amizade, nos conhecemos, nos tornamos amigos e sempre saíamos em grupo nos orkontros, depois de um tempo que começamos a sair sozinhos e ninguem sabia até que rolou.” afirma Thiago.

Depois de alguns encontros, os dois decidiram oficializar a relação, mesmo com a distância. Juliana e Thiago, que moram em cidades diferentes, compensam a saudade nos fins de semana. Para se encontrarem, gastam cerca de 2 horas no trajeto São Paulo – Diadema. E agora, passado cerca de três anos desde o primeiro contato, o casal decidiu dar um grande passo na relação: vão se casar!

Alguns dos padrinhos vem de outras partes do Brasil, fruto da amizade feita anos atrás que ajudou a unir o casal. É o caso da contadora bahiana Mara, 26, que acredita que a medida que os relacionamentos virtuais se solidificam saem do monitor pra vida real “Eu sai de Salvador para São Paulo uma vez, pra ficar na casa de pessoas que nunca tinha visto na vida... Acho que a vontade dos encontros surge no momento que os sentimentos ficam mais fortes, afirma.

Para a psicóloga Ana Stuart, a internet pode ser uma grande aliada para pessoas tímidas, que têm medo de um primeiro contato. Segundo ela, os jovens são os principais usuários dos bate-papos virtuais. Isso porque, na juventude, há uma grande necessidade de ser ouvido e de ser compreendido. “Antes esse contato era feito por telefone. Os pais gastavam uma fortuna. A internet vem para facilitar esse processo.”, explica Ana. Porém, a psicóloga alerta para possíveis problemas com o uso da ferramenta. “Tudo em excesso é ruim. Pode haver uma acomodação por parte de quem precisa enfrentar o contato pessoal.” Ana ainda comenta os cuidados que devemos ter nas relações virtuais.. “Tem gente que consegue ter uma postura no virtual, que não consegue ter no real. Ou por vergonha, ou por compulsão pela mentira, ou porque idealiza uma personalidade que na verdade não tem. E por isso, as pessoas têm que ter muito cuidado nas relações virtuais. Porque na verdade, eles ali podem estar falando com a pessoa conscientemente, ou podem estar falando com uma pessoa que está fantasiando o seu perfil.“

Mobilização 2.0

Com as novas possibilidades de interação proporcionadas pela web 2.0, muitas ações que antes só podiam ser feitas presencialmente, hoje são realizadas por meio da internet. Um bom exemplo disso são as manifestações que acontecem nas redes sociais e tomam proporções cada vez maiores.

Essas manifestações possuem objetivos diferentes, desde a aprovação de um projeto de lei até uma grande piada interna. Assim aconteceu com duas ações recentes: as campanhas Ficha Limpa e Cala Boca Galvão.

A campanha Ficha Limpa surgiu em abril de 2008 com o objetivo de melhorar o perfil de candidatos a cargos políticos no país. Para isso, foi feito um projeto de lei tornando mais rígidos os critérios de quem não pode se candidatar. Para que esse projeto de iniciativa popular se torne uma lei, é preciso que ele seja votado e aprovado no Congresso Nacional. A campanha teve uma enorme adesão e causou grande repercussão na internet, sendo recolhidas mais de 2 milhões de assinaturas. “Se tanta gente não tivesse se envolvido, talvez o projeto nem tivesse sido aprovado”, diz Fernanda Cabral, que participou da campanha.

Video do cala a boca galvão

Outra campanha recente de grande adesão foi a Cala Boca Galvão, uma brincadeira com o locutor Galvão Bueno que acabou se transformando em uma enorme piada interna. A movimentação começou no Twitter, onde os usuários postavam a tag #calabocagalvao. Os usuários que não falam português, sem entender nada, começaram a perguntar o que significava a tal expressão. Várias foram as repostas dadas, entre elas que Cala Boca Galvão era o novo hit de Lady Gaga ou que a expressão, traduzida para o inglês, significava “Save the Galvao Birds” (Salve os pássaros Galvão). Após essa nova brincadeira, surgiram vídeos e perfis de um suposto Galvão Institute, que lutava pela preservação dos tais pássaros. Essa grande piada brasileira tomou proporções mundiais, sendo publicadas matérias em grandes jornais, como o New York Times.

RP 2.0 - As relações publicas nas mídias sociais

As mídias sociais estão cada vez mais inseridas no dia-a-dia das pessoas em todo o mundo. Foram elas que ajudaram a eleger o Presidente atual dos Estados Unidos da América, Barack Obama, segundo dados revelados em pesquisas posteriores as eleições e estão revolucionando o jornalismo, reinventando a maneira de se produzir as propagandas.

Segundo informações do IBOPE Nielsen Online (parceria entre o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística e a Nielsen), 85,6% dos internautas brasileiros permaneceram conectados em alguma mídia social no mês de março deste ano. E dados da ferramenta online NetView, revela que sites desse segmento foram campeões de acesso no Brasil.

É bem provável que você leitor tenha pelo menos um perfil no Orkut. E já parou para pensar no quão rentável essas mídias podem ser para empresas, artistas e até políticos? Ainda pelos dados da Nielsen, comprovamos que a popularidade deste tipo de mídia é inegável e que empresas atentas às novas tendências estão adotando novas formas de divulgação de seus produtos e serviços. Considerando os números acima, torna-se possível concluir que elas estão apostando no lugar exato.

As Lojas Americanas, por exemplo, postam diariamente no Twitter as promoções do dia e, uma vez ou outra, lançam promoções que oferecem prêmios. Em uma dessas ações, os internautas deveriam ler as dicas lançadas no Twitter e tinham de buscar códigos e outros dados no site. Esse tipo de estratégia influencia as pessoas a olharem outros produtos e, às vezes, a comprar algo. Pode até não ser 100% eficiente, já que não são todos que possuem conta na rede, mas é um método eficaz para conseguir consumidores.

O Centro de Ensino de Inglês e Espanhol de Juiz de Fora, FISK, usa de métodos parecidos com o das Lojas Americanas. Os perfis da escola estão no Orkut, Blog e Twitter. As promoções são constantes e os prêmios variam entre objetos, como relógios, bolas, viagens e até um semestre estudando grátis. A responsável pelo marketing da FISK, Juliana Cetrim da Cereja Web, afirmou que as mídias sociais são as mais poderosas formas de divulgação da atualidade. “Optamos por utilizar o Orkut e o Twitter que são os mais populares no Brasil. Através dessas redes podemos informar os usuários sobre as promoções, notícias e outros eventos da escola, incentivando-os sempre a acessarem o site, conhecerem os cursos da FISK, e até aprenderem um pouco de inglês e espanhol através dos Blogs,” acrescentou.

De acordo com os dados da Nielsen, no Brasil o Orkut ainda é a mídia mais usada pelos brasileiros. O Facebook aos poucos conquista novos públicos e o Twitter, com os seus 140 caracteres, já virou mania. E existem muitas outras mídias. A banda de rock No Jolly de São Paulo, por exemplo, possui perfil no Myspace, Fotolog, Tramavirtual, Purevolume, Oi novo som, Bandas de Garagem e Palco MP3, além do Twitter e do Orkut. O baixista da banda, Wil Cowen, explicou por que escolheu esse meio. “É de fácil acesso, qualquer um da banda pode atualizar e temos maior contato com nossos fãs,” destacou. Já o cantor Bruno Miguel diz que a internet evoluiu junto com sua carreira, se sente um pouco filho dessas mídias. “Por lá as pessoas me conheceram primeiro, opinaram e influenciaram no meu trabalho,” comentou.

E qual dessas mídias é a mais poderosa? Marlon, da dupla sertaneja Marlon e Maicon, diz que o Twitter é o canal com mais interatividade. “Acessamos o Twitter todos os dias e às vezes ficamos online conversando com áudio e voz disponíveis. Falamos principalmente sobre nossa carreira e respondemos perguntas dos fãs. Quando existem questões nacionais, deixamos nossa opinião também”, destacou.

Filipe Vieira, vocal da banda de rock Líria de Juiz de Fora acredita que o Twitter existe um retorno mais constante por parte dos fãs e isso proporciona um aumento na quantidade destes nos shows. Diferente dos dois, Bruno Miguel revelou estar assustado com a quantidade de vídeos de músicas dele postados no Youtube, e principalmente com a quantidade de visualizações. “O último relatório encontrou mais de 1.000 gravações domésticas em webcams, de gente cantando Faz assim. Fico muito feliz por esse resultado espontâneo”, ressaltou.

De acordo com os números do Ibope, o Twitter é a rede que obteve mais adeptos nesse ano. A escolha dos usuários por essa rede é por possuir uma interface simples e a comunicação ser rápida e dinâmica.

A jornalista Ana Carolina Neves diz que o segredo é sempre inovar. Ela trabalhou na divulgação do trabalho do cantor Bruno Miguel e o recurso mais usado eram as promoções. Um dos prêmios foi um jantar no Rio de Janeiro com ele. Para isso, as fãs conectadas no Orkut tinham que fazer um vídeo e pedir muitas pessoas para votarem. Uma jogada de marketing inteligente, já que para votar eram obrigadas a participar da comunidade oficial do Bruno. “A ideia era que ao entrar na comunidade as pessoas se interessariam em conhecer quem era o cantor”, afirmou. Segundo ela os resultados foram excelentes e totalizaram 3027 votos e o crescimento do número de fãs, que obrigaram o artista a criar mais seis perfis no site.

E as mídias sociais já chegaram à política.

Políticos de todo o mundo estão ligados no potencial das mídias para as próximas eleições. O conceito de como se fazer campanha política mudou depois que Obama venceu as eleições. Ele arrecadou dinheiro para a campanha e conseguiu adeptos após usar a internet para se promover. Um desses adeptos criou um perfil no Myspace e chegou a 160.000 pessoas. Barack Obama divulgou vídeos no Youtube com promessas de investir em pesquisas tecnologias, liberar a banda larga para os americanos e se comprometeu a divulgar dados de seu mandato na internet. Hoje, o presidente americano possui perfil no Facebook e Twitter.

No Brasil, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, foi o primeiro a usar a internet em sua campanha. Uma das iniciativas foi criar um blog chamado 25 horas com Kassab e um bonequinho, o Kassabinho. Essa interatividade aproximou os eleitores, e principalmente o público jovem.

Foto de divulgação. O Kassabinho.

O vereador do município de São João Nepomuceno, Írio Henriques, acredita no poder da internet. “São muitos os jovens conectados, e dessa forma o público atingido se torna muito favorável ao nosso propósito. Lá podemos expor nossas propostas e coisas do nosso dia, que nos aproximam das pessoas criando formas de identificação mais sólidas”, afirmou. E nas próximas eleições o vereador pretende seguir a nova tendência. “Seguirei as leis, e se for permitido, com certeza farei uso desta tecnologia”, revelou.

A jornalista Ana Carolina Neves destaca que os políticos brasileiros ainda não estão preparados para essa nova fase. “Não adianta usar só na época das eleições. Os políticos ainda não descobriram o que podem fazer de útil”, ressaltou.

Ano passado aconteceu a votação para a reforma na lei para a liberação do uso irrestrito da internet nas campanhas eleitorais. A proposta foi aceita e a única restrição foi às TV Web, que em caso de debates deveria seguir as mesmas regras das televisões. A questão divide opiniões. Uns defendem total liberdade e outros acreditam que deveria haver mais restrições. “A Constituição da República Federativa do Brasil, CRFB, resguarda o uso das mídias mais populares para propagandas eleitorais que, naquela época, eram o rádio e a TV. Hoje, a internet está disseminada por toda a sociedade. Acho justa a propaganda nesse meio e o legislador não deve se abster de promulgar leis que definam esse uso e assim não ocorrerem abusos”, afirmou o estudante de direito da UFRJ, Marcus Felipe Souza Ramos.

E a comunicação digital é assim, provoca curiosidade, oferece conhecimento, possibilita a troca de experiências e muito mais. E a pergunta para o futuro é: O que mais será de domínio das mídias sociais? Você é capaz de responder, ou só o tempo para dizer?


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