sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

exPRESSA

Sozinho, tomo café expresso no cerco bibliográfico de uma livraria de paredes de vidro transparentes e com aquele cheiro gostoso de papel novo e saber. Deixo ao lado os dois livros que me prendem a atenção e passo a ver os passos atormentados dos transeuntes de uma segunda feira gorda. Hoje a pressa é coisa que me é limitada pela ressaca de uma madrugada repleta de agitações ébrias que muito me agradam. Pode ser que me perca em devaneios ou pode ser que me chamem a atenção. “Senhor, mais um café? Sim, por favor. Obrigado.” Nessas horas eu pouco me importo com o mal que a cafeína confere a minha gastrite, principalmente depois de algumas doses quentes de absinto nacional. A única coisa que me interessa agora é essa sensação de ver passar os passos apressados dos meus amigos homens. Figuras exóticas, outras não. Ternos e gravatas, bermudas e chinelos, rua, um lugar de eternas contradições. Altos e baixos, bonitos e feios (se é que isso realmente exista), gordos e magros. Mas sempre os mesmos passos. O mundo parece caminhar à tona de toda essa correria e eu aqui, perdido no achado de minhas confabulações com ou sem sentido. Porque não um olhar distraído e hálito quente de café ao invés de passos? Mamãe certamente me diria, no auge da sua vida de caminhadas, que há ocupações maiores e melhores que carecem nesse momento de minha atenção. Mas não. Preciso desse momento à parte de tudo o que me cerca. É como ir ao cinema sozinho só para dormir no meio da sessão. Como ficar na janela olhando as folhas das árvores balançarem. Momentos socialmente perdidos. Já reparou que quinze minutos só e descompromissado parece a eternidade de um dia? Pois bem, esses momentos prolongam a vida. Fazem-me por um curto estilhaço de tempo me sentir mais eu, mais individuo e menos social e coletivo, menos passos. A partir de um momento a vista embaça, os movimentos ganham as proporções de um quadro futurista, repleto de cores que deixam traçados feitos à rapidez. Esse jogo me confunde, é fluido demais para minha visão. A única coisa que consigo discernir no meio dessa confusão é um sujeito aos trapos, barba grande, vestimentas rasgadas e pé no chão. Anda livremente, sem pressa, com uma sacolinha de lixo na mão. Parece comer uma fruta, que possivelmente foi rejeitada por alguém que às vezes reclama ter fome. O sujeito me chama a atenção, torna-se o foco do meu quadro futurista, não como alvo do espetáculo, mas como diferencial. Seus passos de pés sujos no chão frio não parecem seguir a ordem do racionalismo apressado, quente e limpo. Ele é a tudo isso, um alienado. Mas quem estará errado? Os passos lentos ou os apressados? Começa a chover, os passos somem e eu paro de ver meu mundo. Hora de ir, num caminhar lento, recebendo a chuva com graça, sem medo de se molhar, com dois livros debaixo da blusa e sem os 35 reais que serviriam para eu almoçar durante os dias da semana. Calçado, de roupa limpa e barriga cheia o mundo parece normal na ordem dos apressados.

5 comentários:

Lucas Peths disse...

Está de parabéns pelo texto, Pablo! De verdade.

Você disse muitas coisas que ficam aprisionadas dentro de mim, querendo sair, mas sems aber como...

Abraço!

Anônimo disse...

Foi você quem ecreveu Pablo?? Achei o texto bacanão!! Parabéns!!!! \o/

Bárbara Ribeiro disse...

Meniro, Pablooo
mto foda

agora o cometario do Peths bem q significa nehh
kkkkkkkkk

Ana Luíza Benatti disse...

mandou mto bem Pablam!! (msm se não tiver escrito o texto.. ) retratou uma realidade q mta gte prefere não ver..

e Babi smp com comentários sarcásticos ahhaua

Pablo Abreu disse...

Valeu pelos comentários galera...